Volta às aulas sob o olhar de vários atores
O anúncio de vistoria nas escolas e volta às aulas em março em São Sebastião gera uma onda de críticas. Ouvimos os profissionais do meio.
Sob o título
"SEDUC realiza vistoria em creches e escolas municipais", no último dia
12 foi publicado pela Prefeitura de São Sebastião, num canal criado
exclusivamente para a Educação, que, "como parte das ações de
requalificação da rede física das escolas municipais", sem dizer quais
seriam estas "ações", informava que a secretária de Educação do
Município, Marta Braz, acompanhada pela equipe técnica da SEDUC, "iniciou
a vistoria das unidades de ensino, tendo como objetivo avaliar as
condições estruturais dos prédios para o planejamento da retomada das
aulas presenciais".
O último parágrafo diz: "O
próximo passo será a elaboração de um diagnóstico preciso das condições
de cada escola para garantir que os cerca de 15 mil alunos da rede
municipal sejam acolhidos na melhor estrutura possível...", finalizado.
Repercussão
Saúde: Em
contato com nossa redação, alguns médicos que trabalham na cidade, mas,
com o pedido de preservar suas identidades, questionam essa comitiva.
Alegam que a ausência de profissionais do Controle Epidemiológico, de
pessoal da Vigilância Sanitária e a produção de relatórios técnicos que
subsidiem os protocolos para cada unidade, de alguma forma, "compromete a qualidade da inspeção".
Pais de alunos: Alguns
com os quais conversamos estão apreensivos e inseguros sobre permitirem
que seus filhos vão às escolas. Uma síntese é a de que há crianças que
convivem em seus lares com pais e avós com comorbidade ou idade
avançada, o que torna o ambiente suscetível à transmissão,
principalmente porque as crianças são assintomáticas na maior parte dos
casos.
Leitores: Há
um volume importante de críticas e de incredulidade. O ponto alto
dessas manifestações está na ausência de vacinas para os quadros
discente e docente.
Profissionais: Conversamos
com especialistas em Educação, com professores aposentados e com
profissionais que trabalham no setor pelo Município, inclusive com
ex-secretários.
Com diferenças muito pontuais, a voz corrente é praticamente a mesma, qual seja: a de que o sonho de quem trabalha com Educação pública é ter um prazo dilatado para fazer adequações necessárias dentro das escolas. "É impossível fazer isso com as crianças lá dentro, por causa de alergia e outras coisas", disse um especialista.
"O Governo teve um ano para fazer diagnóstico e promover as reformas necessárias. É uma vergonha a falta de planejamento", afirmou uma ex-secretária, que, emendou com uma pergunta:
"Como podem falar em volta às aulas em março, depois de um ano sem nenhuma criança na sala de aula, e escolas estarem com mato alto, janelas precisando de reparos, paredes com tinta descascando, lousas deterioradas, alguns telhados com vazamento, filtros de água sem manutenção, um caos?"
Outra educadora, que leciona hoje na rede municipal, diz que a parte dos professores está sendo feita "na unha". Falou que fizeram
um link no site da Prefeitura disponibilizando atividades, "como disse a
professora Marta" numa entrevista para uma emissora de rádio, que
estava liberado tanto para o uso do professor como para o uso do aluno,
mas, "são atividades medíocres, sem a menor base curricular necessária mínima, sem avaliação nenhuma", criticou. E foi mais longe, quase que denunciando: "Estão
exigindo relatórios fantasiosos dos professores para justificar, como
se tivesse tido um ano letivo de competência. um engodo. É um ano
dramático", fatalizou.
Uma ex-diretora pedagógica da Secretaria de Educação, teceu este comentário:
"Um monte de professor pegou jornada suplementar imaginando que o ensino seria remoto. Mas, na hora que voltar e for presencial vai haver um êxodo na Educação", demonstrando preocupação.
Uma diretora de escola, reflexiva, se referindo aos gestores da área, disse que "tiveram
tempo para fazer uma coisa mais salubre, mas, não fizeram durante um
ano. Ficaram em briga política gastando errado. Deveria estar começando
com apostilas de ensino consistente. Esse sistema de mídia fajuta do
pouco com propaganda do muito é péssimo. Desde o 'Telecurso Primeiro
Grau' em 1988 já se fazia melhor", comparou.
Um professor aposentado disse: "Toda
vez que querem mostrar alguma coisa, usam as imagens de duas ou três
escolas que reformaram. Não mostram a realidade, por exemplo, da escola
tradicional de Barequeçaba, que está deteriorada. E este é o mesmo
quadro de muitas outras escolas municipais", declarou.
Outra ex-secretária de Educação da Prefeitura, pontuou que "há
um retrocesso irrecuperável nos métodos de Educação do Município''.
Parece muito com o tal do construtivismo, sem nenhum amparo, que criou
uma lacuna educacional em nossa cidade. Depois tiveram que fazer salas
de aceleração para poder pegar o aluno cheio de repetências e colocá-lo
em outro grau, criando uma geração de analfabetos funcionais", sentenciou.
Situação
Há
cerca de um mês, uma experiência foi noticiada pela mídia nacional. Num
período de dez dias depois da volta às aulas presenciais, escolas
privadas do estado de São Paulo já registraram casos de contaminação
pelo coronavírus.
Em
instituições como Móbile, Santa Cruz, São Luís, Santa Marcelina, na
capital paulista, e Jaime Kratz, em Campinas, todas classificadas como
de elite, estudantes, professores e outros trabalhadores da educação
testaram positivo para covid-19. Enquanto isso, na rede pública, o
Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo
(Apeoesp) já registrou 262 casos de covid-19 em escolas da rede
estadual, em todo o estado.
No Brasil inteiro este está sendo o grande desafio, não sendo portanto uma particularidade de um só lugar, de uma só região.
As
recomendações profissionais, como as da OMS, são as de que se priorize a
reabertura das escolas. Isso, por óbvio, deve estar sempre acompanhado
do monitoramento dos números de casos e sua taxa de crescimento. Além
disso, é imprescindível que haja EPI's (Equipamento de Proteção
Individual) para os profissionais e máscaras e álcool gel para os
alunos. Importante também que testes sejam feitos rotineiramente. Os
protocolos sanitários são indispensáveis.
E,
claro, desobrigar os pais de mandarem seus filhos à escola, porque essa
relação de confiança e exigência só será possível estabelecer em bom
nível quando a vacina for em massa. Nesse sentido, cada um com sua rede
de proteção sanitária e plano pedagógico, sob críticas ou não, preparam o
retorno às aulas presenciais, possibilitando um ensino por meio remoto
também como opção, como é o caso de Caraguatatuba, Ubatuba e Ilhabela
também.
No
portal da Organização Pan-Americana de Saúde - OPAS há materiais de
comunicação sobre a Covid-19, com orientações sobre procedimentos.
Acesse em nossa versão digital, clicando aqui
A
Organização Mundial da Saúde (OMS), junto com o Fundo das Nações Unidas
para a Infância (Unicef) e a Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e Cultura (Unesco) dispõem de um guia com considerações para medidas de saúde pública relacionadas à escola no contexto do COVID-19.
Acesse em nossa versão digital, clicando aqui
Nossa reportagem continuará acompanhando. Não perca as próximas edições.
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