EXPLOSÃO DO ÍNDICE DE REFERÊNCIA FAZ DISPARAR O ALUGUEL

 Criado nos anos 50, o IGP-M, que bateu recorde em 2020 e leva em conta valores de ‘commodities’ por todo o mundo, traz aumento desproporcional do aluguel 



Um corte de até 25% no salário foi uma das medidas legais autorizadas no Brasil durante a pandemia. O Governo até cobriu uma parte dessa perda para o trabalhador. Mas, na medida em que a transmissão do vírus vai desafiando a nação, aqui e ali surgem ideias, nem sempre traduzidas em ações, de auxílio ao cidadão. Ao mesmo tempo, todavia, uma disparada de preços de tudo, de combustível, gás de cozinha a itens da cesta básica, dificulta a existência.

Uma matéria do site El País abordou o fato de estar havendo um reajuste de aluguel de 30%, apesar da pandemia. A explosão do Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M), em 2020, que chegou a 23,14% – a maior alta desde 2002 —bagunçou as relações econômicas e os preços do mercado, principalmente do aluguel. 

A alta foi um desvio da curva do IGP-M, que em 2019, 2018 e 2016, não passou dos 8% —e, em 2017, chegou a negativar em 0,52%. 

O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de março, que serve de referência para o reajuste dos alimentos, por exemplo, subiu 6,10% em doze meses. O IGP-M, por sua vez, é usado para balizar os preços de empresas em relações conhecidas como BtoB (business to business) além dos aluguéis. 

Composição

Ele leva em conta, de forma conjunta, a variação nos preços internacionais de produtos no atacado, matérias-primas como petróleo e minério de ferro, além de materiais e mão-de obra ligados à construção civil, além de um outro índice ao consumidor, o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) ao mercado, que trata de produtos que chegam ao consumo direto da população.

Com a tendência de aumento se mantendo em janeiro, fevereiro e março, o IGP-M chegou a 31% de inflação nos últimos 12 meses.

O professor de economia da Universidade de São Paulo (USP), Heron do Carmo, disse. “A composição do IGP-M data dos anos 50. Não tem mais o menor cabimento, como também não faz sentido usar esse índice para reajustar o aluguel”. O economista explica que a adoção do IGP-M como referência para os contratos vem da época da ditadura militar, quando o modelo econômico deixava todos os índices para medir a variação dos preços bem parecidos”. 

Sem tanta diferença entre os índices, o IGP-M passou a ser o preferido para basear os contratos de aluguel porque é o único que sempre foi divulgado no último dia útil do mês. Como poderiam usar qualquer índice, este se tornou conveniente porque era possível saber o reajuste seguinte antes do fim do mês. E isso se tornou um padrão”, completa Carmo.

Cenário Regional 
(Litoral Norte de SP)

Em contato com alguns corretores de imóveis que trabalham com estoque de imóveis para locação de médio ou longo prazo contratual no Litoral Norte de São Paulo, a informação - em síntese - é a de que não houve muitos casos de aumento de aluguel.

Poucos, considerando a quantidade existente, foram renegociados com baixa de preços por um curto período na pandemia, e a maioria permaneceu com os valores que já eram praticados.

Corretores que trabalham com imóveis de alto padrão com os quais conversamos dizem que há mais demanda que oferta, principalmente em Ubatuba e São Sebastião. Sob este aspecto, é possível dizer que região litorânea de SP se difere da maior parte do restante do estado.

Para aluguéis de curto período, diário, temporada e fins de semana - em imóveis de elevado padrão - há proprietários fazendo renda de até meio milhão de reais por ano. Tudo isso na pandemia.

Não souberam precisar, mas, o registro de fechamento de imobiliárias na região é mínimo. Mesmo com as portas fechadas por conta de decretos sanitários, corretores não deixaram de oferecer plantão diário a nenhum instante.

Especialistas do setor imobiliário asseguram que percebem uma mudança de comportamento do locatário, que outrora discutia menos sobre o valor pedido pelo locador do imóvel.

A perda de renda, a instabilidade da economia com reflexos no emprego e o elevado custo de vida com escalada de preços no país estão entre os fatores que podem contribuir para essa postura. Dizem que sempre houve negociação, é fruto dessa relação, mas, há uma significativa alteração na forma de propor isso.

O preço médio da locação no LN para imóveis comerciais e residenciais atualmente pode ser considerado alto, asseguram. A economia está estagnada e o dinheiro circula menos.

O que caiu mais, segundo dizem, foi o valor de venda de imóveis. É possível atualmente encontrar imóveis prontos e na planta por valores menores que há um certo tempo, porém, os valores de terrenos tiveram pouca redução, o m² continua muito valorizado na região.

Aliás, no que se refere aos imóveis de alto padrão, especialmente na região da Costa Sul de São Sebastião, dizem os corretores que há uma lista de espera enorme para compra, uma clientela com reservas e prontas para negociar, não havendo, todavia, disponíveis para venda. Essa é uma realidade que também se mostra avessa a maioria do país.

Finalmente, consideram os que atuam em São Sebastião que, se o Plano Diretor for corrigido e aprovado, aumentarão as possibilidades de transações imobiliárias, especialmente por conta da possibilidade de um reaquecimento da construção civil com novos empreendimentos, reformas e ampliação de existentes, ainda mais se a questão do gabarito for revista.

Mesmo considerando que há um volume imenso de dinheiro sendo operado nesse ramo, o que tem mantido o Cartório em franca atividade. Essas transações, conste, geram impostos que beneficiam os cofres municipais.

Em Caraguatatuba as principais apostas estão em apartamentos de um e dois cômodos, mas, há especulações sobre o cenário na região Sul, especialmente pelos investimentos que serão feitos pela Prefeitura na criação de um novo polo de estrutura turística.

Fonte de apoio: El País

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